G7 e Médio Oriente aprofundam atrito Trump-Macron

por Lusa

O Presidente francês, Emmanuel Macron, concluiu a sua participação na cimeira do G7 com um novo atrito com o homólogo norte-americano, Donald Trump, de cujas abordagens em relação aos principais conflitos globais se tem afastado.

Os chefes de Estado francês e norte-americano têm estado distantes em questões desde a Ucrânia - que Macron apoia face à invasão russa enquanto Trump se mostra cético e muitas vezes crítico do Presidente Volodymyr Zelensky -- ao Médio Oriente -- com Paris a admitir reconhecer o Estado da Palestina, algo inadmissível para Israel, aliado indefetível de Washington.

Antes da cimeira do G7 no Canadá, Macron visitou a Gronelândia, território administrado pela Dinamarca que, para estupefação de toda a NATO e União Europeia, Trump tem dito querer anexar -- apesar de os Estados Unidos já ali terem uma base militar.

"Não é assim que se procede entre aliados", disse Macron no território dinamarquês, em referência às abordagens Trump.

Ao concluir prematuramente a sua participação no G7, Trump fez na terça-feira um duro e pessoal ataque a Macron, de quem foi próximo no primeiro mandato, alegando que o Presidente francês "nunca percebe nada".

"Errado! Ele [Macron] está a `procurar publicidade` e erra sempre (...). Ele não faz ideia porque é que estou a caminho de Washington... Muito mais do que isso [cessar-fogo]. Fiquem atentos!", publicou Trump na rede Truth Social já a bordo do Air Force One, em rota para Washington.

Mais tarde, ainda antes de chegar a Washington, Trump suavizou o tom em declarações aos jornalistas: "É o Emmanuel --- um bom tipo, mas não acerta com muita frequência".

Confrontado com as declarações de Trump, Macron descreveu-as como um "acidente".

"Não me incomoda porque conheço", disse o Presidente francês.

À medida que Trump exigia na terça-feira a "RENDIÇÃO INCONDICIONAL" de Teerão, Macron contrastava, dizendo que a pressão para uma mudança de regime no Irão provocaria "caos" e desestabilizaria ainda mais o Médio Oriente.

"Não queremos que o Irão adquira armas nucleares ou capacidades balísticas (...). Mas acredito que o maior erro hoje seria procurar uma mudança de regime no Irão por meios militares, pois isso levaria ao caos", disse Macron, que recordou a invasão norte-americana do Iraque.

"Alguém acha que o que foi feito no Iraque em 2003 foi uma boa ideia? Alguém acha que o que foi feito na Líbia na década passada foi uma boa ideia? Não", questionou.

Sobre as relações com Trump observou que foram "as melhores do mundo" durante o primeiro mandato do Presidente norte-americano.

Em 2017, Macron impressionou Trump com um desfile no Dia da Bastilha, jantares formais e apertos de mão prolongados que ficaram célebres e indiciavam uma boa ligaçao entre ambos.

Um aperto de mão viral de 29 segundos deu o mote para uma relação de domínio teatral.

O reencontro na Casa Branca, em fevereiro de 2025, trouxe uma versão refinada da coreografia entre ambos, com Macron a corrigir com delicadeza o homólogo, a rebater os comentários de Trump sobre a Ucrânia e a rir-se das suas piadas.

Macron --- que anunciou na terça-feira que a França vai receber a próxima cimeira do G7 em 2026 no resort alpino de Evian-les-Bains, --- tentou enquadrar a saída antecipada de Trump como útil, mas acabou por demonstrar as fraturas entre os aliados.

Dana Allin, especialista em política norte-americana do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, sublinhou à AP que Trump "tem tendência para ser desinibido --- diz o que pensa".

"E isso", sublinhou Allin, "pode mudar rapidamente".

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